Entre 1994 e 2009, a psicóloga Daniela Pedroso estudou o perfil das mulheres vítimas de abuso sexual que engravidam. O estudo era para sua tese de mestrado na Universidade de Santo Amaro, em São Paulo, e sua principal conclusão é que 90% das estupradas não procuram o médico para tentar interromper uma possível gravidez. Essas brasileiras têm em média 22 anos, são solteiras (76,3%) e brancas (61,2%).

Como parte da política de direitos sexuais, o Ministério da Saúde permite que a vítima de estupro possa interromper pelo SUS a gravidez indesejada. Mas entre as condições exigidas está que o feto tenha menos de 22 semanas e pese menos que 400g. A grávida precisa procurar um médico no máximo em cinco dias após o estupro para que a pílula do dia seguinte faça efeito.
Daniela fez o levantamento com 936 pacientes dentro do projeto Bem-Me-Querer do Hospital Pérola Byington, referência na América Latina sobre a saúde da mulher, e onde trabalha. Ela contou ao blog que grande parte das que sofreram estupro só ficam sabendo dos seus direitos quando passam por uma delegacia para fazer um boletim de ocorrência. O boletim de ocorrência não é obrigatório para que ela interrompa a gravidez. Da delegacia, geralmente essas mulheres são encaminhadas ao Pérola Byington que oferece o serviço de abortamento.

A retirada do feto ocorre na maioria dos casos por aspiração intrauterina porque é mais rápida. A cesárea só é usada quando a paciente está prestes a chegar a 22 semanas de gestação.  Daniela afirma que, antes de qualquer procedimento, ao chegar ao hospital, é explicado à grávida vítima de estupro que ela pode ter três opções: ficar com o bebê e, portanto, prosseguir com a gravidez; doar legalmente a criança para uma instituição ou realizar o abortamento. Caso ela tenha mais que 22 semanas de gestação, o aborto não é realizado. Daniela contou que nesses 15 anos, nove crianças (meninas até 12 anos) grávidas de estupro passaram pelo hospital, sendo que seis realizaram o aborto. Na maioria dos casos (61%), o estupro é cometido por um desconhecido da vítima que fez sozinho o ato de violência. “Quando o estuprador é conhecido, geralmente é o tio materno, o tio paterno, o padrasto ou o ex-parceiro”, diz  Daniela.
Ao ler todos esses dados, pensei nas seguintes questões:

Existe uma desinformação gigantesca no Brasil sobre os direitos da mulher. Simplesmente as mulheres estupradas não sabem que podem retirar o feto. E mais, não procuram um médico por vergonha ou trauma. Deve ser realmente muito difícil, mas acredito que o Ministério da Saúde deva fazer campanhas para alertar essa vítimas da violência sexual. Elas precisam e devem ser socorridas. Sinceramente se eu tivesse engravidado de um estupro não desejaria ficar como feto. Sei que aqui vão ter muitas opiniões contrárias, principalmente de religiosos. Mas é bom lembrar que a maior parte das mulheres que realiza aborto no Brasil, inclusive as vítimas de estupro, se declara católica.

Outra questão é que nunca pensamos nas crianças grávidas de estupro, mas elas existem. Nem chegaram à adolescência e já são obrigadas a carregar um ser que, certamente, não terão a menor condição de cuidar e manter. Gerar um filho é para uma mulher e não uma criança. Por isso sou favorável á interrupção da gestação nesses casos.

  1. 12 de maio de 2011

    Fui estuprada 3x e ouvi na delegacia que eu freguesa… isso me fez virar as costas e ir embora sem registrar o BO, a vergonha já é grande de passar por isso, não entendo como pode existir tanta falta de respeito e despreparo dos ogros que estão nas delegácias registrando os BO.
    Não contei a ninguém, nem ao meu marido… estou grávida e oro todas as noites para que ele seja do meu marido e não do estuprador que aparentemente teve o cuidado de usar camisinha (pelo menos estava dentro do meu carro o papel dela), eu desmaiei de dor e acordei depois de algum tempo cheia de sngue e segui meu caminho, muda com vergonha e medo de ser morta como ele prometerá.

    • 13 de maio de 2011

      Nossa mas que situação terrível. Que vergonha daqueles que deveriam nos proteger. Se está gestante já deve ter realizado todos os exames que identificariam doenças sexualmente transmissíveis, caso contrário, deve iniciar seu pré-natal o mais rápido possível. Em caso de estupro, sempre indicamos pílula do dia seguinte e medicamentos para evitar doenças contaminante, porém se ele uso preservativo você está mais segura.

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