Por mais que a ciência tenha dado grandes saltos em pesquisas, medicamentos, exames e tratamentos, quando se fala em reprodução, ainda é o tempo quem dá as cartas. Quanto mais a idade avança, mais o corpo feminino envelhece e, com ele, os óvulos que a mulher carrega desde que nasceu. Assim, engravidar vai se tornando uma tarefa mais difícil para o organismo e, às vezes, perigosa para a saúde feminina. É preciso reconhecer que a biologia não acompanha o avanço social feminino.
Evidentemente, há mulheres que se tornaram mães aos 40, 50 e até 60 anos, no entanto, elas são exceções e podem sim correr riscos. Muito se fala de casos de sucesso, mas quase nada se noticia sobre gestantes mais velhas que tiveram problemas sérios de saúde durante os nove meses ou deram à luz a bebês portadores de males genéticos.
É fato que as brasileiras estão engravidando cada vez mais tarde. Seja por questões ligadas à vida profissional, pelo desejo de curtir bastante a vida sem filhos ou ainda por não terem encontrado o parceiro ideal, elas têm deixado a maternidade para depois. Segundo o relatório “Estatísticas do Registro Civil 2011”, divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 18,3% das novas mães têm entre 30 e 34 anos atualmente. Há dez anos, quase o mesmo percentual (20,9%) estava na faixa de 15 e 19 anos.
O problema de deixar esse plano para um futuro indeterminado é que muitas adiam a maternidade sem saber detalhes do próprio corpo e quando chegam ao consultório do ginecologista dizendo que querem engravidar podem receber uma notícia não muito animadora: o tempo não está a favor.
Diversos estudos divulgados mundo afora indicam que, até por volta dos 35 anos, a fertilidade feminina em geral é satisfatória. Depois disso, ano a ano, a queda é cada vez mais acentuada. O artigo “Otimizando a Fertilidade Natural”, da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva, publicado em 2008, apresentou um gráfico que relacionou a idade de mulheres de várias épocas e lugares do mundo com a taxa de gravidez. Entre 20 e 25 anos, o número de mulheres que engravidou ficou entre 400 mil e 600 mil. Entre 30 e 35 anos, declinou para a faixa de 300 mil a 500 mil. Depois dos 40 anos, despencou para 200 mil, baixando para a faixa de 100 mil a zero entre 40 e 45 anos.
Também é de conhecimento médico que com o avançar da idade não só a fertilidade declina como também aumentam os números de abortos e de bebês nascidos com problemas genéticos, como a síndrome de Down.
Isso tudo porque não só a quantidade de óvulos diminui: a qualidade do material cai. Durante a ovulação, o óvulo passa por um processo de divisão chamado meiose. Ele perde metade de seu material genético para se juntar a um espermatozoide, que também só tem metade do material genético, e então formar o embrião, com a carga total de material necessária.
Com o avanço da idade feminina, a meiose vai ficando cada vez mais instável: um óvulo pode perder mais ou menos que a metade do material genético e com isso fica mais difícil de ele ser fecundado. E ainda assim, se a fecundação ocorrer, são grandes as chances de um aborto ou de o feto nascer com alguma deficiência.
Todo ginecologista, além de conversar com a paciente a respeito da importância de ter um estilo de vida saudável, o que inclui cuidados com a alimentação e precauções para evitar doenças sexualmente transmissíveis, tem de fazer o aconselhamento reprodutivo. Ele peca por omissão se não abordar o assunto e instruí-la a respeito das dificuldades e dos problemas de uma gestação tardia. Não se trata de incentivar ninguém a engravidar, mas sim de esclarecer e explicar a importância de planejar a maternidade.
Não há como aumentar o tempo de vida fértil. Tomar pílula de modo ininterrupto não ajuda a postergar o tempo da fertilidade, só interrompe a menstruação. Os óvulos, tal como outras células, nascem já com prazo de vida, é a chamada apoptose, a morte celular programada.
Mas há o que considerar ao conversar com o ginecologista se a mulher deseja engravidar depois dos 35 anos e quer saber o quão isso pode ser arriscado:
– A idade em que a mãe, as avós e as tias maternas entraram na menopausa. É provável que a mulher siga a mesma tendência;
– A idade em que ocorreu a primeira menstruação. Quanto mais cedo, mais cedo findará a vida fértil;
– O intervalo entre os ciclos menstruais. Se eles estão ficando mais espaçados, pode ser um sinal de que a fertilidade está declinando;
– O estilo de vida. Se a mulher fuma, bebe ou está muito acima do peso prejudica cada vez mais as chances de gestar. O tabagismo, por exemplo, acelera a destruição dos folículos ovarianos, afetando gravemente a função reprodutiva. Uma alimentação deficitária em zinco e selênio também não é recomendada;
– A realização de quimioterapia ou radioterapia, tratamentos que alteram a fertilidade.
Além de uma conversa detalhada com o ginecologista, é possível averiguar com um exame de sangue como anda a saúde reprodutiva em relação ao que é esperado para a faixa etária e então pensar se vale ou não postergar a gravidez.
Quanto maior a reserva, menos arriscado é o adiamento, ainda que não seja um dado determinante, já que, para engravidar, outros aspectos corporais precisam estar em ordem.
Optar pelo congelamento de óvulos é uma saída em que muitas mulheres têm pensado como solução para adiar a gestação antes mesmo de chegar ao consultório ginecológico.
Embora essa seja uma opção válida, os médicos pedem cautela com a animação: o procedimento não é garantia de gravidez, ainda mais em se tratando de implantar o embrião, fruto de um óvulo congelado, em mulheres com idade avançada –principalmente mais de 40 anos. Muitas pacientes depositam toda sua confiança em técnicas de reprodução assistida e se esquecem de que os procedimentos, por mais modernos que sejam, continuam precisando de um material básico, o óvulo, e de um organismo saudável.
Pouco adianta implantar o embrião depois dos 40. Há que se considerar que o corpo já está mais velho, que é mais difícil ele segurar uma gestação.
Também não é indicado pensar em congelar depois dos 35 anos. O ideal, é optar pelo congelamento entre 28 e 32 anos, período em que os óvulos têm mais qualidade. Há perigo de postergar o uso de óvulos congelados pois não existem ainda pesquisas consistentes que assegurem quanto tempo o material aguenta em boas condições.
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