São 12:15 h e a última paciente da manhã entra e pergunta antes mesmo de seu médico ter tempo de cumprimentar-lhe:
-Eu posso sentar aqui?
Seu médico olha por cima dos óculos que passou a usar nos últimos meses e responde:
-Bom dia Marli, fique á vontade
Ela arruma seus excessos por entre a poltrona e diz:
-Estou morrendo de calor e não consigo dormir, meu marido está nervoso porque faz mais de 1 mês que não temos relação.
O médico fixa um olhar com uma das sobrancelhas erguidas em algum lugar entre os fartos seios e o cabelo preso por algo que mais parecia uma agulha de crochê ou talvez um “hashi” e questiona:
-E o que a senhora está esperando para se tratar?
-Tratar como?
-Usar medicamentos ou mudar seu estilo de vida, fazer exercícios e se alimentar bem.
-Exercícios? Isso não me pertence, não faz parte do meu cardápio de opções, respondeu olhando para cima e revirando os olhinhos.
Seu médico já imaginou que aquilo não seria fácil e pulou as orientações alimentares pensando qual deveria ser o cardápio daquela senhora e diz:
-Bom, vejo em seu prontuário que não tem histórico de câncer na família, que não tem antecedentes de trombose, que não fuma e portanto usar hormônios, seria uma boa opção.
-E o senhor me garante que não vou engordar? Perguntou como se já não fosse gorda o suficiente.
O médico pensou em dizer que comer é que engorda, mas ponderou:
-Use o hormônio, melhore seus sintomas e se alimente bem e não vai engordar.
-Mas o que me garante que não vou ter câncer na mama?
Ele, perdendo a paciencia e olhando para o relógio do computador responde:
-Nada te garante! O risco é baixo e você deveria tentar.
-Sabe doutor, e se eu começar a me sentir mal, quem vai se responsabilizar?
O médico decidido em ir almoçar e acabar com aquela arapuca responde:
-Minha querida a senhora já está se sentindo mal, não dorme, está com a vagina seca e não quer transar com seu marido, discute com a própria sombra e vive se abanando e suando, perde urina quando tosse e espirra, a senhora que decide a vida que quer ter, não eu.
E a senhora sem expressar nenhuma reação diz:
-Nossa doutor, como o senhor é inseguro!
Lembre-se que seu médico deverá tentar sempre lhe oferecer a melhor opção para a resolução do seu problema, mas que você deverá assumir o custo de determinadas opções em troca do benefício. Se vai submeter-se á uma cirurgia, tem risco de complicações. Se é gestante de último trimestre e quer fazer uma viagem de avião, tem que saber que corre riscos. Seu médico é humano assim como você e que sua segurança é diretamente proporcional á sua experiência, porém saiba aproveitar tudo isso ao seu favor, evite ligar para seu médico a cada passo que você der depois de uma cirurgia ou um novo medicamento, confie nele e tente manter o foco nos conselhos daquele que você escolheu para ser seu médico.
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