Novo contraceptivo oral tem estrogênio estruturalmente idêntico ao produzido pelo corpo e a mesma quantidade de hormônios em todas as pílulas ativas
Há 54 anos, quando a primeira pílula contraceptiva foi lançada, a mulher conquistou o direito de escolher o melhor momento para ter filhos e pôde, enfim, evitar uma gravidez não planejada. De lá para cá, muita coisa se modernizou no mundo da contracepção. Se no início os métodos eram bombas de hormônio, com o passar dos anos, foram reproduzindo a fisiologia do organismo e moldando-se às necessidades individuais de cada mulher, de acordo com seu estilo, hábitos diários e histórico médico. Pílulas com menor dosagem de hormônio e formas de contracepção alternativas surgiram, a exemplo do anel contraceptivo, do implante subcutâneo, do adesivo e do DIU.
Agora, a contracepção oral vai além ao oferecer à mulher uma opção mais próxima da natural. Chega ao mercado este mês uma pílula com combinação inovadora de hormônios semelhantes aos produzidos naturalmente pelo organismo feminino. A combinação da progesterona e acetato de nomegestrol com o estrogênio 17B-estradiol chega como opção aos demais contraceptivos orais combinados.
Vendida comercialmente com o nome de Stezza, a nova pílula tem ainda o regime monofásico como diferencial, ou seja, seus 24 comprimidos ativos são iguais em quantidade de hormônios, o que pode facilitar os procedimentos em caso de esquecimento da pílula. Esquemas multifásicos (quando os comprimidos de uma mesma cartela têm cores e quantidades de hormônios diferentes) tornam a administração mais complexa.
A cartela é composta por 28 comprimidos – 24 ativos (com medicamento) e 4 placebos (sem hormônios) –, que servem para manter a regularidade na tomada das cartelas. Isso quer dizer que você vai tomar as pílulas continuamente, sem o costumeiro intervalo de quatro dias que a maioria das marcas recomenda. Com o placebo, há um intervalo na ingestão de hormônios, mas não na tomada dos comprimidos. Essa continuidade diminui as chances de erro sobre o dia certo para iniciar uma nova cartela.
A combinação única de hormônios também pode propiciar períodos menstruais curtos e com pouco volume de sangramento.
“Hoje, toda mulher pode e deve decidir em conjunto com seu médico o método contraceptivo mais adequado para ela. A chegada de uma pílula que se aproxima do hormônio que a mulher produz, com um regime monofásico, é um grande avanço entre as opções que existem no mercado. A nova pílula pode ser apropriada para mulheres de qualquer idade, incluindo as jovens que procuram contracepção hormonal oral e que, potencialmente, terão longo período de exposição a métodos hormonais”, comenta César Eduardo Fernandes, diretor científico da SOGESP (Associação de Ginecologia e Obstetrícia de São Paulo).
Comprovação
A eficácia e a tolerabilidade da nova pílula foram avaliadas em dois estudos realizados com mais de 3.400 mulheres com idade entre 18 e 50 anos, em 95 centros da Europa, Ásia e Austrália, e 89 centros da América Latina, Canadá e Estados Unidos. Ambos os estudos foram multicêntricos, randomizados, com comparador ativo, de rótulo aberto, e duraram 13 ciclos de 28 dias cada um. A combinação hormonal de Stezza foi comparada com a combinação de drospirenona com etinilestradiol. Os estudos analisaram eficácia contraceptiva, segurança e ocorrência de sangramento de escape.
De acordo com esses mesmos estudos, as usuárias da nova pílula tiveram uma média de três a quatro dias de sangramento, em comparação com cinco dias das usuárias da pílula comparada. De acordo com a bula do produto, 4,6% das mulheres apresentaram ausência de sangramento em cada um dos três primeiros ciclos de uso.
Em um estudo aberto e randômico, no qual 32 mulheres foram tratadas com a nova pílula por 6 ciclos, o retorno da ovulação ocorreu em média 20,8 dias após a última ingestão de comprimido, com ovulações mais precoces detectadas em 16 dias. A maioria das mulheres não apresentou alteração de peso em ambos os grupos de tratamento.
É importante lembrar que todos os métodos contraceptivos só podem ser utilizados mediante prescrição médica e devem levar em consideração os consensos médicos, a exemplo dos Critérios de Elegibilidade para Uso de Anticoncepcionais da Organização Mundial da Saúde (OMS).
A nova pílula estará disponível em duas apresentações, com 1 ou 3 blísteres na embalagem.
Escolher o anticoncepcional é um direito
Levar em consideração o histórico clínico e respeitar as necessidades individuais e as orientações médicas são fatores essenciais na hora de eleger o contraceptivo ideal para você.
Adotar um contraceptivo baseado na experiência de amigas ou na indicação do atendente da farmácia pode ser perigoso. Isso porque a escolha do método vai muito além das afinidades e da adaptação: deve levar em consideração a história clínica, o estilo de vida e as necessidades individuais de cada mulher.
Por isso é importante saber os fatores que interferem na adoção do anticoncepcional e sempre seguir a recomendação médica. Conhecer cada uma das opções disponíveis é o primeiro passo para a escolha, que sempre deve ser feita sob a orientação do profissional. Apesar de o método oral ser a opção da maioria das mulheres que desejam evitar uma gravidez, existem diversos contraceptivos disponíveis no mercado. Mesmo as pílulas têm variações: podem ser de baixa, média ou alta dosagem, com um único hormônio ou combinações.
“O aconselhamento médico é fundamental na escolha do método contraceptivo, visto que o profissional é capacitado a avaliar condições impeditivas à prescrição de um determinado método e tem o papel fundamental de orientar a paciente, dando-lhe informações sobre eficácia, modo de ação, frequência e facilidade de uso, efeitos colaterais e via de administração. Depois dessa orientação, a mulher pode exercer seu direito de escolher o método contraceptivo de acordo com seu estilo de vida”, explica Cristina Guazzelli, professora associada livre-docente de Ginecologia e Obstetrícia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Independentemente da escolha, a mulher deve se sentir segura e confiante com o método. Para ajudar nessa tarefa, selecionamos alguns aspectos que devem ser levados em consideração na hora de definir o contraceptivo:
- Tenho alguma restrição médica que impeça o uso desse método?
- Qual é a eficácia do método e a frequência de uso (diário, mensal, trimestral)?
- Desejo prevenir a gravidez em curto, médio ou longo prazo?
- O modo de tomada é conveniente para mim? Vou me lembrar de usá-lo adequadamente?
- Estou confortável com a via de administração (oral, vaginal, subcutânea)?
- Esse método interfere na frequência e na intensidade da minha menstruação?
- Esse método apresenta efeitos colaterais ou complicações em potencial que vão me prejudicar?
- Esse método tem benefícios que outros não oferecem?
- Esse método é acessível para mim financeiramente?
- Esse método é reversível? Posso engravidar logo após parar de usá-lo?
As respostas podem auxiliar a analisar, junto com o médico, vantagens e desvantagens de cada método e, em seguida, escolher aquele que será usado de forma consistente e correta pelo tempo necessário.
“Direito de Escolha”
Informação é fundamental para uma escolha segura e confiante. Apesar do diversificado arsenal de métodos contraceptivos, nem todas as mulheres conhecem as diversas opções e exercem o direito de escolher, junto com o profissional de saúde, aquele que melhor se adapta às suas necessidades.
Com o objetivo de levar informação às mulheres, a Merck Sharp and Dohme (MSD – empresa farmacêutica norte-americana) criou o site “Direito de Escolha”. No endereço www.direitodeescolha.com.br, as mulheres têm acesso a informações sobre métodos contraceptivos hormonais e não hormonais, e podem fazer comparações e tirar dúvidas sobre cada um deles. O site também traz curiosidades sobre a saúde da mulher, através de textos e vídeos.
Conheça alguns dos métodos contraceptivos
Pílula combinada
Frequência de uso: diária
Utilização: método que combina dois hormônios (estrogênio e progesterona). De ingestão oral diária, no mesmo horário. Existem vários tipos diferentes em quantidade de comprimidos, dosagens e tipos de hormônios, alguns iguais aos produzidos pelo organismo da mulher.
Importante lembrar:
É preciso disciplina e constância para ingerir o comprimido diariamente no mesmo horário.
Na presença de intolerância gástrica (vômito e diarreia), pode haver interferência na eficácia do método.
Pílula de progesterona
Frequência de uso: diária
Utilização: comprimido diário apenas com progesterona, que deve ser tomado todos os dias, sempre no mesmo horário. Com esse tipo de pílula, não há intervalo entre as cartelas. Podem ser:
De média dose (pílula contendo desogestrel), que age inibindo a ovulação exatamente como os métodos combinados. Esse método pode ser usado na amamentação e fora dela, por apresentar mecanismo de ação semelhante às pílulas combinadas.
De baixa dose (minipílula), que age deixando o muco cervical mais espesso, alterando a motilidade da trompa e também inibindo a ovulação, porém com menor frequência. Por isso é pouco usado fora da amamentação pois tem eficácia reduzida.
Importante lembrar:
É preciso disciplina e constância para ingerir o comprimido diariamente no mesmo horário.
Na presença de intolerância gástrica (vômito e diarreia), pode haver interferência na eficácia do método.
Anel contraceptivo
Frequência de uso: mensal
Utilização: o anel, transparente e flexível, deve ser inserido na vagina pela própria mulher. Age liberando hormônios (estrogênio e progesterona) continuamente. Tem duração de três semanas com uma semana de intervalo.
Importante lembrar:
A eficácia não é alterada em caso de vômito ou diarreia.
Para algumas mulheres, ter de se tocar para a inserção e a remoção do anel pode ser incômodo.
Implante subcutâneo
Frequência de uso: 3 anos
Utilização: bastonete de 4 cm de comprimento com apenas etonogestrel (um tipo de progestagênio) em sua composição, que é liberado gradualmente, impedindo a ovulação. Deve ser inserido pelo médico abaixo da pele do braço, com anestesia local.
Importante lembrar:
Eficácia garantida, mesmo em caso de vômito ou diarreia.
Precisa de um médico para colocar e retirar.
Adesivo transdérmico
Frequência de uso: semanal
Utilização: é colocado sobre a pele das costas, do braço ou das nádegas a cada sete dias, durante três semanas consecutivas, com uma de intervalo. Age liberando hormônios (estrogênio e progesterona) continuamente.
Importante lembrar:
Eficácia garantida, mesmo em caso de vômito ou diarreia.
O adesivo pode descolar.
DIU e SIU
Frequência de uso: DIU – até 10 anos (dependendo do modelo); SIU – 5 anos
Utilização: dispositivo com ou sem hormônio, introduzido no útero pelo ginecologista.
Importante lembrar:
Eficácia garantida, mesmo em caso de vômito ou diarreia.
Precisa de um médico para colocar e retirar.
Injetável
Frequência de uso: mensal ou trimestral
Utilização: libera estrogênio e progesterona (mensal) ou só progesterona (trimestral) gradualmente, impedindo a ovulação. É aplicado no músculo (normalmente nádegas ou braço).
Importante lembrar:
Tendência a alterações do ciclo menstrual no caso do método trimestral.
Eficácia garantida, mesmo em caso de vômito ou diarreia.
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